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Campinas, São Paulo, Brazil
Psicólogo Clínico Junguiano com formação pela Unicamp, terapia corporal Reichiana, Hipnoterapeuta com formação em Hipnose Ericksoniana com Stephen Gilligan.E outras formações com Ericksonianos: Ernest Rossi, Teresa Robles, Betty Alice Erickson. Formação em Constelação Familiar Sistémica pelo Instituto de Filosofia Prática da Alemanha. Uma rica e inovadora terapia divulgada em toda Europa. Professor de Hipnoterapia, além de ministrar cursos de Auto-conhecimento como Eneagrama da Personalidade e Workshop de Constelação Familiar Sistémica em todo o Brasil. Clínica em Campinas-SP. Rua Pilar do Sul, 173 Chácara da Barra. Campinas-SP F.(19) 997153536

Uma relação de ajuda

Como é bela, intensa e libertadora é a experiência de se aprender a ajudar o outro. É impossível descrever-se a necessidade imensa que têm as pessoas de serem realmente ouvidas, levadas a sério, compreendidas.
A psicologia de nossos dias nos tem, cada vez mais, chamado a atenção para esse aspecto. Bem no cerne de toda psicoterapia permanece esse tipo de relacionamento em que alguém pode falar tudo a seu próprio respeito, como uma criança fala tudo "a sua mãe.
Ninguém pode se desenvolver livremente nesse mundo, sem encontrar uma vida plena, pelo menos...
Aquele que se quiser perceber com clareza deve se abrir a um confidente, escolhido livremente e merecedor de tal confiança.
Ouça todas a conversas desse mundo, tanto entre nações quanto entre casais. São, na maior parte, diálogos entre surdos.
Paul Tournier.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Augustine

AugustinePor um dessas particularidades do esforço humano de compreensão, Charcot acabou entrando na história das ideias a reboque de Freud. Compreende-se. Sigmund Freud, pai da psicanálise, acabou se tornando muito mais influente do que este médico francês com o qual foi estudar, ainda muito jovem, em Paris.


No entanto, Charcot tem uma posição inabalável na história da psiquiatria, em particular, no estudo dos distúrbios então chamados de histéricos. Ele as atendia no hospital parisiense La Salpêtrière, onde Freud estagiou no final do século 19. Foi lá, em contato com essas doentes, que os primeiros estalos a respeito do inconsciente e da cura psicanalítica vieram à mente de Freud.

Em Augustine, o papel principal é atribuído a uma histérica, vivida por Stéphanie Sokolinski. Vincent Lindon é Charcot e Chiara Mastroianni interpreta sua esposa, Constance. O ano é 1885 e Augustine, jovem provinciana que trabalha numa casa de família, luta para controlar seus ataques, que surgem sem que haja explicação aparente. É levada para tratamento com Charcot, que, dizem, traz métodos revolucionários para o tratamento desses males misteriosos. Entre outras novidades, faz uso da hipnose para aliviar os sintomas das doentes. Sim, “as” doentes, porque todas as acometidas por esses males de origem desconhecida são mulheres. Hysteron quer dizer útero.

O filme dirigido por Alice Wincour é então a história de uma cura? Nem tanto. Poderia ser melhor descrito como a história de uma tentativa de compreensão daquilo que não se conhece. Isso, por parte de Charcot. E, de uma “doença” misteriosa, causada, provavelmente, pela repressão muito forte da sexualidade.

Pois é isso que Charcot logo descobre, meio sem querer – os sintomas exibidos, a teatralização dessas queixas pelas histéricas encobre um significado sexual próximo do explícito. É o que Charcot vê, mas também não consegue enxergar porque é homem limitado por seu tempo e seu horizonte cultural como parte do corpo médico. De certo modo, o que ele não vê é o que será enxergado por seu discípulo mais famoso e que, exatamente por isso, dará um passo mais largo no conhecimento da mente humana.

Alice Wincour dirige esse drama do sofrimento psíquico com sobriedade. Às vezes até com certo peso, mas é essa atmosfera mesmo que associamos à sociedade burguesa e repressiva da Europa do século 19, época justamente em que a histeria faz sua aparição um tanto de través no mundo médico. Se para a medicina tradicional da época elas eram apenas fingidoras, para uma mente mais aguda, como a de Charcot, eram apenas doentes. 
E que, com sua doença, poderiam ensinar algo sobre a natureza humana. Inclusive que o desejo pode se manifestar sob a forma de dor e sofrimento, o que apenas em aparência seria uma contradição.

Fonte. Luiz Zanin

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Auto-conceito

O auto-conceito é o conhecimento de si mesmo que o construtivismo estrutura em sua inteligência e expressa, aqui e agora, como atitude positiva ou negativa diante de sua auto-imagem, sendo um ato de inteligência, iminentemente Cognitivo.
O auto-conceito vem sendo estruturado desde a infância, pela quantidade e qualidade das interações em que cada um de nos tem com o meio, estruturando e reestruturando continuamente, um conhecimento de mim mesmo, uma concepção, um conceito de mim mesmo, um auto (de mim mesmo), conhecimento (conceito), no presente e, eventualmente, em relação ao futuro.
Um posicionamento que informa uma atitude, estabelecendo uma postura, aqui e agora; e dura o tempo de um juízo sobre mim mesmo: “eu sou um fracasso”, o que penso; a idéia que faço; como me percebo, me vejo; o que acho de mim; tomada de consciência; um posicionamento; uma atitude (valorização); uma postura; uma concepção; um conceito.
Podemos entender o auto-conceito, como a expressão do conhecimento que o indivíduo elabora de si mesmo, qualquer que seja a validade, a procedência e a amplitude de abrangência deste conhecimento: real, verdadeiro, parcial, fragmentário. Na construção do auto-Conceito, o sujeito busca uma avaliação de si mesmo, um juízo de valor ou uma desvalorização, implicando um posicionamento, uma postura, uma atitude diante de si mesmo, de acordo que com a construção de sua Auto-Imagem; assim sendo, o ato de conhecer-a-mim-mesmo é uma cognição construída diante de meu retrato, de minha Auto-Imagem.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Teoria das motivações

Segundo Maslow a pirâmide sugere que todo ser humano possui necessidade internas a serem atendidas, de um nível mais simples até um mais complexo. As necessidades fisiológicas dizem respeito a questões como alimentação, moradia, vestuário, dentro outras. Quando as necessidades fisiológicas estão razoavelmente satisfeitas, aparece uma nova categoria: necessidades de segurança. Como exemplo desse tipo de necessidades, encontramos proteção, preferência por um trabalho estável, reservas financeiras para o futuro, algum tipo de religião ou filosofia que fortaleçam a fé e a crença.
Quando os dois primeiros tipos de necessidades estão satisfeitos, aparecem as de amor e afeto. A pessoa sentirá necessidade de amigos, relacionamentos afetivos, parentes e integração nos grupos a que pertence.
Satisfeitas pelo menos parcialmente as necessidades de amor, a pessoa sente também a necessidade de fortalecer a sua auto-estima e de receber a estima dos outros. Essas necessidades têm os seguintes significados:
  • Auto-Estima: desejo de força, realização, suficiência, domínio, competência, confiança, independência e liberdade.
  • Estima dos outros: desejo de reputação e prestígio, dominação, reconhecimento, atenção, importância ou apreço dos demais. A satisfação das necessidades de estima leva ao desenvolvimento de sentimento de autoconfiança, capacidade de ser útil e ser necessário para os outros.
Por outro lado, sua frustração produzirá sentimentos de impotência e inferioridade podendo levar a pessoa a apresentar, inclusive, manifestações neuróticas.
Por fim, quando todas as demais necessidades estão satisfeitas, surge uma mais elevada, a de auto-realização. Isso implica querer realizar suas potencialidades, com um sentido de plenitude do ser, com desejos de autodesenvolvimento e autoconhecimento.
Ainda de acordo com o autor citado, acreditava que as pessoas só passavam de um degrau ao outro na escala de necessidade se o anterior estivesse satisfeito. No entanto, estudos mais modernos mostram que isso não é rígido assim, podendo variar de pessoa para pessoa.
Herzbeg avançou nos estudos de Maslow e se voltou aos aspectos mais ligados ao trabalho. Este autor considera as necessidades fisiológicas e de segurança como fatores higiênicos (se não satisfeitos, geram insatisfação, ao passo que, se satisfeitos, não geram satisfação). Nesse sentido, salários, benefícios e condições físicas de trabalho inadequado podem causar insatisfação e, se adequados, podem não motivar as pessoas.
Várias situações podem exemplificar o que foi dito, pois quando observamos o nosso Congresso Nacional, fica claro que, se salário fosse fator motivacional, teríamos sempre a casa lotada em todas as plenárias. E como explicar o envolvimento de pessoas que, sem receber salário algum, se comprometem de corpo e alma com causas sociais, instituições filantrópicas e outros movimentos?
Ainda segundo Herzberg, as necessidades afetivo-sociais, de estima e de auto-realização compõem o que ele chamou de fatores motivacionais. São estes que produzem efeitos duradouros nas pessoas, e englobam sentimentos profundos de satisfação, realização, crescimento e reconhecimento. É na atender essas necessidades que observamos surgir o fenômeno da motivação como uma força interna, uma energia interior própria e exclusiva do ser humano.
Podemos dizer que a motivação existe em função do nosso desejo interno de objetivos do mundo exterior. Desejando o conforto ou o prazer que um bem nos proporciona (por exemplo, carro novo, uma roupa nova etc), desejamos a estima e a aceitação das pessoas, desejamos nos desenvolver, e os nossos desejos são infindáveis. Isso nos coloca numa busca constante: a satisfação de uma necessidade não nos paralisa, ao contrário, desencadeia dentro de nós outra necessidade a ser suprida, e lá vamos nós atrás dela.
O estado de carência ou o desejo provoca em nós uma conduta de buscar sua satisfação. Ao se dar o encontro da necessidade com o seu correspondente fator motivacional, Herzberg considera que tenha ocorrido o “ato motivacional” rumo a um objetivo e, por conseguinte, a satisfação obtida pela saciação da necessidade.
A motivação é uma força interior (energia) que nos move a uma ação (motivos para ação), com a finalidade de alcançar um objetivo e realizar nossos desejos internos; é um conjunto de MOTIVOS que leva um ser humano a empreender uma determinada AÇÃO. MOTIVAÇÃO = MOTIVO à AÇÃO.
Segundo Good e Mcdowell, a motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa, e que pode estar ligada a um desejo. Uma pessoa não consegue jamais motivar alguém; o que ela pode fazer é estimulara outra pessoa.
E os autores finalizam dizendo que, a ação de uma pessoa está diretamente ligada à força de um desejo, isto propõe que as pessoas façam as coisas como e quando querem, e que a motivação possui uma liberdade e autonomia. Entende-se assim que a motivação seja um impulso que venha de dentro, e que tem, portanto suas fontes de energia no interior de cada pessoa.
Alderfer propõe uma hierarquia modificada de necessidades que apresenta somente três níveis. Inicialmente as pessoas têm interesse de satisfazer suas necessidades de existência, como fisiológicos e de segurança, tais como salário, condições físicas no ambiente de trabalho, segurança no cargo e plano de benefícios. Vindo a seguir a necessidade de relacionamento, isto é, envolver-se compreendido e aceito por pessoas no trabalho, e fora dele.
Por último aparece a necessidade de crescimento, envolvendo tanto de desejo de auto-estima como de auto-realização. O autor aceita a possibilidade de que os três níveis estejam ativos a todo o momento, e o seu modelo (E-R-G) não assume com rigor no progresso de nível para nível, e quando ocorre insatisfação do nível acima, pode retornar a concentrar no nível mais baixo.
A auto-motivação é conseqüente de um processo de auto-conhecimento, onde aumentamos a percepção do mundo exterior, estabelecendo metas e objetivos de nossa vida. O nível de motivação será sentido pelos nossos atos, nossas ações, que tocam o mais íntimo de nosso ser, que recebemos dos estímulos externos, e que serão interpretadas por nossas referências internalizadas.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Como motivar as pessoas

Como sabemos a motivação é um processo interno no ser humano, sendo que cada pessoa possui uma maneira própria de sentir, de perceber as coisas, pois vem de um processo interacional com o mundo que o cerca, de seu auto-conhecimento. Portanto a sua auto-estima é a percepção de conteúdos que ele adquiriu durante toda sua vida, de sua auto-imagem que veio sendo formada.
O comportamento motivacional dos seres humanos não é uniforme, mesmo que essencialmente as carências sejam as mesmas. As formas como elas se apresentam e a sua importância relativa são diferentes de indivíduo para indivíduo, pois seus comportamentos estão relacionados, como suas carências foram ou não satisfeitos; construindo uma personalidade, ou seja, um comportamento motivacional padrão que difere uma pessoa como única, diferente das demais.
Quando o ser humano sofre uma pressão externa para exercer determinadas tarefas, com um aumento de stress, em um ambiente hostil, não ocorre um processo motivacional, pois quando o indivíduo é energizado inadequadamente, o resultado final é a insatisfação, descontentamento, ou mesmo ausência de resultados.
A empresa não pode motivar seus funcionários, já que motivação é uma força interna, uma energia que nos move a uma ação (motivos para ação), com uma finalidade de alcançar um objetivo e realizar nossos desejos internos.
Então como conseguir que os colaboradores se motivem? Sem deixar que eles se desmotivem. O líder eficaz não mais concentra sua energia em motivar as pessoas, mas em reduzir ou eliminar fatores que possam vir a desmotivá-las. Ele tem que ter claro que ações como não cumprimentá-los, chamar a atenção na frente de outros, invadirem espaços previamente definidos, não saber ouvir e ser empático, designar duas pessoas simultaneamente para realizar a mesma tarefa, comparar desempenho de uma pessoa com outra, dentro outras, são ações que desmotivam.
Por outro lado, os incentivos e estímulos aos colaboradores são fundamentais, ativando um processo motivacional. Quando é apresentada às pessoas uma visão clara do futuro da organização como um todo, e todos sabem onde, como e quando a empresa quer chegar mais especificamente do trabalho a ser realizado, dando-lhes ainda a dimensão e a oportunidade de encarar e vencer os desafios.
Reconhecer um trabalho quando é bem realizado, sem paternalismo, demonstrar sentimentos pelas pessoas, promover uma integração das pessoas e proporcionar feed-backs construtivos são elementos poderosos para se atender as necessidades afetivo-sociais. A comunicação é aberta e as relações transparentes, e as pessoas se sentem à vontade para expor idéias, são livres para fazer críticas ou apresentar sugestões, e têm autonomia para pores em prática novas maneiras de fazer o trabalho.
Oferecer oportunidades reais de crescimento profissional para todos os funcionários, investindo no desenvolvimento profissional e pessoal, pois poucas coisas motivam mais as pessoas que perceber que a empresa está apostando nelas. Perceber-se participante integral desse processo como um todo, sendo valorizado e estimulado a crescer, leva ao profundo sentimento de realização, despertando a busca do autoconhecimento e do autodesenvolvimento. A energia interior gerada se exterioriza sob a forma de ações, atitudes que demonstram comprometimento com as metas e resultados a serem conquistados.
O mais rico produto que uma organização possui, são seus recursos humanos, sendo que ela necessita que todas as pessoas possuam um mesmo pensamento, um mesmo determinismo, agindo de forma harmônica para atingir uma meta, sendo competitiva, e de qualidade, onde cada membro da equipe exerça o seu papel corretamente, e incentive e seja incentivado pelos demais.
Nós podemos perceber esse sentimento de equipe, essa união, que conjuntamente harmoniosa e motivadora, onde cada membro da organização se sente útil, trabalhando para atingir o resultado, sem deixar de ser solidário.

domingo, 11 de agosto de 2013

A linguagem do amor

Casais apaixonados ou que mantêm um relacionamento de longo prazo não raro se atribuem apelidos carinhosos ou mudam o tom de voz quando falam um com o outro. Segundo pesquisadores da Universidade do Texas em Austin, a identidade afetiva por meio das palavras não para por aí. Um estudo conduzido pelo psicólogo James Pennebaker mostra que pares “bem-sucedidos” ou com mais chances de sê-lo costumam usar o mesmo tipo de palavras funcionais – preposições, pronomes, artigos e conjunções – e com frequência equivalente. Usados em vários contextos, esses termos são, em geral, processados de forma rápida e inconsciente.

Para chegar a essa conclusão, o psicólogo reuniu 80 homens e mulheres e solicitou que cada um conversasse com alguém do sexo oposto por alguns minutos. Em seguida, questionou-os sobre a possibilidade de saírem juntos. Curiosamente, os pares que usaram tipos similares de palavras funcionais se mostraram mais inclinados a marcar outro encontro – mesmo aqueles que declararam não ter muitos pontos em comum.

Em outro estudo, Pennebaker analisou o conteúdo de mensagens de celular enviadas por 86 casais e perguntou aos voluntários quão felizes eles se sentiam com o compromisso assumido. Três meses depois, o pesquisador verificou se os pares ainda estavam juntos. Ele observou que os pares estáveis eram os que trocavam torpedos com mais palavras funcionais em comum. O curioso é que isso se aplicou também a quem declarou estar insatisfeito com o companheiro, na primeira fase da pesquisa.

Agora os pesquisadores querem entender se o vocabulário em comum provoca atração ou se na verdade as pessoas adaptam sua forma de falar, ficando parecidas com o outro. Os dois processos são possíveis, mas Pennebaker acredita que o último seja mais provável: “A linguagem prediz o sucesso dos relacionamentos porque reflete a forma como os casais ouvem um ao outro e se entendem”, reforça o psicólogo.

Facebook, o novo espelho de Narciso II

DITADURA DA ESPONTANEIDADE

Nesse novo ambiente o artificialismo e a mistificação da imagem passam a ser “out”. Deusas etéreas cedem espaço a mulheres que querem ser vistas como “reais”: escovam os dentes, fazem caretas para a câmera, dirigem seu carro e não se importam em ser fotografadas em momentos que antes estariam à margem da esfera pública. Tanto que 42% das usuárias do Facebook admitem a publicação de fotos em que estejam embriagadas e 79% delas não veem problemas em expor fotos em que apareçam beijando outra pessoa. A regra é: quanto mais caseiro, “mais natural”; melhor. O que não significa que essa imagem seja, efetivamente, “natural”, mas que há agora um “gerenciamento da espontaneidade”.

O imperativo da representação feminina nas redes sociais é: “seja espontâneo”. Uma norma paradoxal, assim como a afirmação “seja desobediente, é uma ordem”, escreve o sociólogo Régis Debray. Ele faz uma interessante leitura do que poderíamos chamar de “ditadura da espontaneidade”. Segundo o autor, abandonamos o culto da morte, vivido pelas sociedades tradicionais e religiosas, para vivermos o “culto da vida pela vida” – uma espécie de “divinização do que é vivo” que se apoia no eterno presente e não mais em uma crença no além.

Vemos emergir mulheres que cultuam o que veem no espelho e postam, “religiosamente”, novas imagens de seu cotidiano – sem que tal culto resulte em algum tipo de censura externa ou de autocensura moral. Em outro contexto, como durante o período em que a religião católica era dominante, esse “culto de si” e ao corpo seria considerado um dos sete pecados: a vaidade. Esse imaginário, aliás, é muito bem representado por um quadro do séc. 15, de Hieronymus Bosch, no qual o demônio segura um espelho para que uma jovem se penteie.

Hoje o novo espelho global não é marcado pela vigilância moral. Ao contrário, há um contínuo incentivo da cultura para que as mulheres “se valorizem”, busquem sua singularidade e não se baseiem mais em modelos inalcançáveis (como as top models e outras famosas). E para que percebam em si mesmas uma possibilidade legítima e singular de ser no mundo.
A própria familiaridade e aproximação da mulher com o universo da produção de auto-representações pode levá-la a questioná-las. As mulheres já estão, como escreve Lipovetsky em seu livro A tela global, “cultivadas” pela mídia. Educadas em sua gramática, sabem que o photoshop, a produção e a edição das imagens criam uma mulher irreal e passam a ver essas representações “entre aspas”, distanciando-se criticamente delas. Elas aprendem com recursos autoexplicativos a modelar sua iconografia, a alterá-la, brincar com ela ou melhorá-la (possibilidades, antes, restritas aos profissionais).

Mas a consagração do “culto de si” não significou um isolamento da mulher. Os álbuns publicados nas redes sociais conciliam, contra todas as expectativas, o individualismo e as trocas. Um se alimenta do outro. Há um ciclo: exponho minha individualidade, acompanho a do outro e ele a minha e, assim, somos incentivados a produzir e expor, cada vez mais, as nossas imagens. Trata-se do nascimento de uma “identidade coletiva”, em que a individualidade não elimina a interação, mas é seu motor. Nesse sentido, a identidade coletiva não é produto apenas de uma adesão grupal e sim uma forma de negociação de posições subjetivas – esse é o paradoxo identitário a ser considerado.

Fotos pessoais e “amigos” virtuais (ou não) ditam o ritmo desse espaço interativo. Quanto mais caseiro, mais cotidiano, mais espontâneo, maior o número de relações entre as pessoas, que passam a valorizar a autenticidade e a vida de quem é “próximo”, “real”. Há, na base desse fenômeno, uma democratização dos desejos de expressão individual na medida em que as mulheres buscam conquistar espaços de autonomia pessoal – que traduzem a necessidade de escapar à simples condição de consumidoras daquilo que outros produzem. Elas querem colocar seu rosto no mundo. Aparecer ou não na “tela global” passa a ser uma questão de existência. Por essa razão, ter visibilidade e oferecer sua identidade publicamente é conferir importância à própria existência. O que é, também, uma forma de poder. Nesse ponto a mídia – como campo de visibilidade – passa a ter papel central para entendermos a luta simbólica pelo reconhecimento.

No entanto, essa “democratização” da auto-representação feminina não deve ser tomada como sinônimo do fim da competição estética e ética entre as mulheres. O que tudo indica, o que presenciamos não é a instauração de uma igualdade, mas a ampliação do número de mulheres na disputa por visibilidade e poder. Amplia-se, assim, a arena para buscar um poder que não está dado de antemão, mas que deve ser conquistado e manejado pela apresentação e representação de suas singularidades, de suas diferenças. Um agir que se manifesta na criação, no controle e no poder simbólico de sua própria imagem no espaço público, que só se realiza com o reconhecimento do outro nas interações sociais, associativas e na ampliação dos círculos de reconhecimento que estão dentro e fora do espaço de produção da imagem. 
Fonte. Revista Mente cérebro

Facebook, o novo espelho de Narciso

As mulheres gastam mais do que o dobro do tempo dos homens no Facebook: três horas por dia, enquanto eles gastam uma hora, em média. Entrar na rede social é a primeira ação diária de muitas delas, antes mesmo de irem ao banheiro ou escovarem os dentes. Uma atividade cumprida como um ritual todos os dias – e noites. Em um estudo, 21% admitiram que se levantam durante a noite para verificar se receberam mensagens. Dependência? Cerca de 40% delas já se declaram, sim, dependentes da rede. Elas são a maioria não só no Facebook (onde representam 57% dos usuários); também têm mais contas do que os homens em 84% dos 19 principais sites de relacionamentos.

Essas são algumas revelações da pesquisa feita pelas empresas Oxygen Media e Lightspeed Research, que analisou os hábitos on-line de 1.605 adultos ao longo de 2010. Mas cabe ainda perguntar: que motivos levam as mulheres a ficar tanto tempo na frente do computador? Vaidade? Necessidade de reconhecimento? Seria esse fenômeno uma nova forma de autoafirmação? Uma maneira de desenvolver sua individualidade aliada ao reconhecimento do outro? Será essa uma nova forma de buscar sociabilização?

Mais do que procurar uma resposta fácil, cabe, antes, compreender por que a auto-representação é mais importante para as mulheres que para os homens. Historicamente as representações femininas foram fabricadas por motivações sociais diversas: míticas, religiosas, políticas, patriarcais, estéticas, sexuais e econômicas. E, há mais de vinte séculos, essa fabricação esteve sob o poder masculino. As mulheres não produziam suas próprias imagens, eram retratadas.

Em obras de arte célebres vemos inúmeras Vênus adormecidas, (como as de Giorgione, 1509; Ticiano, 1538 e Manet, 1863); Madonas castas (nas imagens religiosas das catedrais católicas como as pintadas por Giotto, no século13, e Botticelli, no 15) ou mulheres burguesas no espaço doméstico cuidando da cozinha e da educação dos filhos (como as pintadas por Rapin e Backer no século 19). Eram cenas “pedagógicas”, que ensinavam o valor da maternidade, da castidade, da beleza e da passividade.
vênus adormecida, óleo sobre tela, giorgione, 1508-10, galeria dos grandes mestres da pintura, dresden
A estética feminina foi estabelecida, durante muitos séculos, pelo olhar masculino; as obras de arte tinham cunho “pedagógico”, com a intenção de ensinar como as mulheres deveriam ser
O pano de fundo dessas produções artísticas era uma tentativa masculina de “gerenciar” o imaginário feminino, transmitindo sugestões sobre a conduta social desejada até uma estética sexual e familiar. Como enfatiza a historiadora Anna Higonnet “os arquétipos femininos eram muito mais do que o reflexo dos ideais de beleza; eles constituíam modelos de comportamento”. Sua capacidade de persuasão era ativada pelo contexto cultural. Um exemplo pontual, mas significativo, pode ilustrar essa hipótese. O nu é quase sinônimo do “nu feminino”. Do Império Romano, passando pelo Renascimento, pela Modernidade e até os dias de hoje, o corpo da mulher reflete os ideais estéticos predominantes.

A historiadora francesa Michelle Perrot chegou a afirmar que “a mulher é, antes de tudo, uma imagem”. Aqui sua ênfase é irônica. Refere-se a uma forma de retratar que associava os cuidados com o corpo, os adornos, as vestimentas e a beleza em geral à atividade, ou melhor, à ociosidade tipicamente feminina”, enquanto os homens deveriam se ocupar de tarefas consideradas sérias: política, economia e trabalho.

Quando a era moderna pareceu, enfim, trazer a emancipação da mulher, a conquista revelou-se contraditória. Estar na moda, ser magra, bem-sucedida e boa mãe tornou-se uma exigência. Com a ajuda do photoshop, top models, estrelas de televisão e cantoras exibem nos meios de comunicação o êxito que conquistaram em todos os aspectos do sucesso – o que, na prática, nem sempre é verdade. Elas, em geral, são tão “irreais” quanto a Vênus grega. A verdade é que a mídia veicula uma série de estereótipos sobre como agir que se tornam um peso para a mulher. Não devemos nos esquecer de que quem assume o comando é o mercado interessado em vender roupas, revistas e produtos destinados ao público feminino – e não propriamente a mulher. Assim, mesmo no século 20, quando pareciam ganhar “autonomia”, elas passaram a ser atormentadas por padrões estabelecidos por outra base imaginária: a do consumo.
O que muda no século 21 para as mulheres que utilizam as redes sociais? Quanto à importância da imagem, nada. Ela -continua a ter papel central para a identidade social feminina, confundindo-se com ela. Por outro lado, vivemos, sim, uma revolução: pela primeira vez a mulher passa a se autorrepresentar, a produzir representações de si publicamente. Essa produção não está mais sob o domínio exclusivo dos homens, nem restrita a um grupo de mulheres como as artistas (atrizes, fotógrafas, cineastas, pintoras, escultoras etc.) ou as modelos. As mulheres comuns tornam-se protagonistas de sua vida. Chegam a dispensar a ajuda de outra pessoa para tirar a própria foto: estendem o braço e miram em sua própria direção. Algumas marcas de câmeras fotográficas desenvolveram inclusive um visor frontal para que a pessoa possa ajustar o foco caso use o equipamento para se fotografar.

A mulher “hipermoderna” reivindica algo novo: o seu protagonismo público e sua “autenticidade”. O que se soma, agora, à revolução tecnológica da sociedade capitalista. Com acesso facilitado a câmeras digitais, a telefones móveis que dispõem desse equipamento e à rede, além da existência de uma plataforma que dá suporte ao armazenamento e oferece possibilidades ao usuário para compartilhar essas imagens pela internet, a mulher passa a se autofotografar nas mais diversas ocasiões, de situações corriqueiras a viagens. Nas palavras do filósofo Gilles Lipovetsky: “O retrato do indivíduo hipermoderno não é construído sob uma visão excepcional. Ele afirma um estilo de vida cada vez mais comum, ‘com a compulsão de comunicação e conexão’, mas também como marketing em de si, cada um lutando para ganhar novos ‘amigos’ para destacar seu ‘perfil’ por meio de seus gostos, fotos e viagens. Uma espécie de autoestética, um espelho de Narciso na nova tela global”. 
Fonte. Revista Mente cérebro.
Isabelle Anchieta

Narcisismo III

ESPELHO DE DUAS FACES
Não raro, pessoas com traços narcísicos marcantes se colocam em situações que prejudicam a si próprias. Os resultados de um estudo desenvolvido pelo psicólogo W. Keith Campbell e seus colegas da Universidade da Geórgia mostraram que o narcisismo está vinculado à tomada confiante de decisões, embora isso muitas vezes ocorra de forma precipitada – como ao apostar em projetos pessoais de maneira imprudente. Em outro trabalho, os pesquisadores relacionam a característica à infidelidade e à impulsividade. Pessoas muito voltadas para si mesmas também podem ser propensas à agressão, especialmente após receberem insultos. Um estudo conduzido pelos psicólogos Brad J. Bushman, da Universidade Estadual de Ohio e Roy F. Baumeister, da Universidade Estadual da Flórida, indicou que estudantes universitários considerados narcisistas têm grande probabilidade de agir de forma vingativa e intempestiva contra quem os ofendeu. Os cientistas pediram a um participante (na verdade, um pesquisador disfarçado) que criticasse um texto escrito pelos alunos, o que foi recebido por eles como uma ofensa. Os pesquisadores entenderam que a crítica negativa foi encarada pelos voluntários como uma ameaça ao próprio ego, não como se fosse um trabalho desvalorizado, mas como se eles mesmos tivessem sido profundamente atacados.

Já o psicólogo Paul Nestor, professor da Universidade de Massachusetts, Boston, ressaltou que pessoas com características intensas do transtorno de personalidade narcisista têm forte risco de passar por situações de violência e desenvolver também o transtorno de personalidade antissocial, relacionado a atos irresponsáveis e, em casos extremos, à prática criminosa. Comportamentos autodestrutivos também podem decorrer do desespero de pessoas narcisistas que deixam de ter seu potencial reconhecido pelos outros. Em um estudo de 2009, uma equipe liderada pelo psicólogo Aaron L. Pincus, da Universidade do Estado da Pensilvânia, relacionou características do narcisismo patológico com tentativas de suicídio. Dados de 2011 apontam que egocêntricos vulneráveis (não os pretensiosos) correm mais riscos de machucar a si mesmos, às vezes de maneira inconsciente, ter pensamentos suicidas e até se automutilar – o que pareceria contraditório para alguém que se valoriza tanto, se na base desses sintomas não estivesse uma enorme fragilidade psíquica.

Por outro lado, uma pesquisa de 2009 conduzida pela psicóloga Amy B. Brunell, da Universidade do Estado de Ohio, em Newark, apontou que pessoas com característica narcísica rapidamente emergem como líderes em discussões de grupo e nas redes sociais, apresentando maior probabilidade de alcançar posições de destaque, por sua atitude carismática, propostas eficazes e criativas.  O problema nesse caso, é que, dependendo do grupo, líderes excessivamente voltados para si próprios podem inibir seguidores potenciais – e nem mesmo notar que provocam essa reação. O psicólogo Timothy A. Judge e seus colaboradores da Universidade da Flórida demonstraram que estudantes de um programa de gestão considerados narcisistas tendiam a se perceber como ótimos líderes, embora outras pessoas não os julgassem tão bem.

As vantagens de ser voltado aos próprios interesses, porém, se estendem além da liderança. Em um estudo publicado em 2011, o psicólogo Peter D. Harms e seus colegas da Universidade de Nebraska-Lincoln mostraram que pessoas consideradas narcisistas costumam se destacar em entrevistas de emprego simuladas, geralmente devido à habilidade de se autopromover. Esses resultados estão de acordo com outra pesquisa feita em 2006 por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia. Os cientistas apontaram elevado grau de narcisismo em celebridades, comparadas com a população em geral. Considerar esses resultados pode nos levar a pensar que, apesar de a admirável capacidade de autopromoção de narcisistas pretensiosos possa ser incômoda para muitos que os rodeiam, é possível aprender com essa característica. Talvez, sustentar-se no centro do universo realmente seja cansativo demais, mas manter-se no controle da própria vida, sem a obrigação de brilhar em tempo integral, pode trazer muita satisfação.

Narcisismo I

Não é de hoje que o narcisismo tem má reputação. A depreciação dessa característica remonta pelo menos à antiga mitologia grega. Uma das narrativas desse velho mundo conta que o belo caçador Narciso (que, sem dúvida, ficaria bem satisfeito com sua atual fama) observou seu próprio reflexo na água e se apaixonou profundamente. O rapaz ficou tão impressionado com a imagem de si mesmo que morreu olhando para ela. Para a psicanálise, trata-se de um aspecto fundamental para a constituição do sujeito. Um tanto de amor por si é necessário para confirmar e sustentar a autoestima, mas o exagero é sinal de fixação numa identificação vivida na infância. A ilusão de que o mundo gira ao nosso redor é decisiva durante a infância, mas para o desenvolvimento saudável é necessário que se dissipe, conforme enfrentamos frustrações e descobrimos que não ser o centro do universo tem suas vantagens. Afinal, ser “tudo” para alguém (como acreditamos, ainda bem pequenos, ser para nossa mãe) é um fardo pesado demais para qualquer um. Alguns, no entanto, se iludem com o fascínio do papel e passam sua vida almejando o modelo inatingível de perfeição.

É compreensível que, de forma exacerbada, a característica seja associada à patologia – embora na última versão do Manual diagnóstico e estatístico de transtorno mentais, o DSM-5, lançada recentemente, o narcisismo tenha deixado a categoria de “distúrbio”. Alguns críticos dessa versão do manual sugerem que, apesar dos evidentes prejuízos que uma atitude marcada pelo narcisismo possa trazer, não interessa à poderosa indústria farmacêutica ressaltar essa questão, já que não há indicação de “remédio” para seu tratamento e, ao mesmo tempo, nossa sociedade incentiva todas as formas de autogratificação, ainda que isso não traga verdadeiro bem-estar.

Na edição anterior do DSM, o transtorno de personalidade narcisista era definido como sentimento excessivo de autoimportância, fantasias irreais de sucesso e intensa inveja, muitas vezes disfarçada, das realizações alheias. Pessoas com o distúrbio também tendem a acreditar que merecem tratamento especial ou que foram injustiçadas quando não obtêm tudo aquilo que desejam. Há casos em que enfrentar o trânsito congestionado ou uma fila atrás de alguém que consideram menos importante, por exemplo, pode causar enorme mau humor, como se fosse uma agressão ser exposto a esse tipo de desconforto.

De fato, a compreensão contemporânea do narcisismo, mesmo entre leigos, raramente é amena. Faça um teste: digite em sites de busca as palavras “narcisistas são”. Certamente aparecerão termos pejorativos, como “egoístas”, “imaturos”, “superficiais” e “egoístas” para completar a frase. Apesar de essas características provavelmente serem indesejáveis, recentemente o psicólogo Jean M. Twenge e seus colegas da Universidade de San Diego apontaram que o “grau” de narcisismo de universitários americanos subiu vertiginosamente nas últimas décadas. Faz sentido se pensarmos que nossa cultura incentiva o individualismo e o culto ao “eu” e ao “meu”.

É certo que pelo menos em parte a má fama do narcisismo seja merecida. No entanto, alguns pesquisadores apontam nuances dessa característica. Embora em excesso esse aspecto torne o convívio difícil, quando bem dosados, o amor-próprio e a autoestima são fundamentais para a busca de experiências saudáveis e a validação delas, o cuidado consigo mesmo e até para o exercício de atividades que exijam iniciativa, liderança e criatividade.

As sessões (The Sessions)

As SessõesParalisado desde os 6 anos pela poliomielite, o escritor, poeta e jornalista Mark O´Brien só podia mexer a cabeça e passava a maior parte do dia dentro de um tubo de ferro para estimular seus pulmões. 

Com esses dados, parece fácil deduzir que o filme As Sessões, inspirado em uma história real, apresente toques de melodrama. Mas é justamente ao afastar-se desse caminho óbvio que o diretor australiano Ben Lewin – que, aliás, assim como o personagem principal, é também um sobrevivente da pólio – promove a discussão sobre as infinitas possibilidades humanas e lembra que a sexualidade ultrapassa os limites do corpo.


A despeito das dificuldades que enfrenta, aos 38 anos O´Brien é um homem bem-humorado e criativo, embora perseguido pela curiosidade na experiência sexual. Sua formação católica – diz ser religioso “por achar intolerável não acusar alguém por tudo isso” – o leva a longas conversas com o padre da paróquia, na busca de uma autorização espiritual que o livre da culpa pelo desejo. Numa relação afetuosa e despojada, o sacerdote o apoia na árdua tarefa de perder a virgindade.

Estamos, então, no início da década de 80, uma época em que terapêuticas sexuais corporais ganham espaço. É importante lembrar que os anos 60 e 70, marcados pelo pós-guerra e pelas revoluções culturais, foram cenários de verdadeiras explosões sociais, ideológicas e artísticas. Proliferavam estudos voltados ao prazer e à liberação sexual. Autores como Masters e Johnson contribuíram significativamente para aliviar a repressão de alguns tabus arraigados e trouxeram melhora na qualidade de vida das pessoas. 

Na Califórnia não faltavam cursos e dinâmicas de grupo voltados à autoliberação. Nesse contexto, o atendimento com a terapeuta sexual Cheryl Cohen Greene, especializada em pessoas com sérias deficiências físicas, interpretada no filme por Helen Hunt, é indicado a O´Brien por uma professora universitária que estuda o tema.

Na vida real, Cheryl de fato fazia esse tipo de trabalho. Didaticamente, a personagem do filme esclarece não se tratar de prostituição, mas de processo terapêutico com objetivos específicos, argumentando, por exemplo, que “a prostituta busca manter um vínculo de dependência e nossos encontros têm número de sessões previamente estabelecido”. Mais que essa diferenciação, bastante questionável, chamam a atenção a atitude profissional, a busca da objetividade, o estabelecimento do contrato e os registros feitos após cada sessão.

Surpreende o encontro singular e generoso entre o paciente e a terapeuta, sem espaço para a vitimização. Um laço emocional necessário se faz presente durante as sessões de sexo. À medida que olhares e toques se estendem além da fisiologia e dos fluidos do corpo, a ansiedade e a insegurança do iniciante são, aos poucos, aliviadas pela experiência. E a despeito de limitações tão explícitas, os dois constroem uma relação peculiar. “Tudo é ao mesmo tempo inesperado e natural”, descreve O’Brien.

Há mais de um século Freud preocupava-se em descrever as pulsões como forças ligadas às relações de objeto, o que faz inevitavelmente do homem um ser em relação. O que nos torna sujeitos depende da qualidade e da dinâmica dos vínculos estabelecidos desde os primeiros momentos de vida. A ideia do outro está presente mesmo na fantasia. Onde há relação, está inevitavelmente presente algum tipo de afeto. Podemos deduzir, então, que O’Brien soube encontrar em Cheryl aspectos sutis que favoreceram a vivência de empatia e intimidade.

O mundo contemporâneo tem valorizado as imagens num processo que o escritor francês Guy Debord (1931-1994) chamou de “sociedade do espetáculo”. Corpos expostos e apelos sexuais parecem banalizar o contato com o outro, num incentivo ao hedonismo vaidoso. Apesar do acesso à informação e dos apelos do sexo, as questões relativas à sexualidade e subjetividades são menos lembradas. Não é à toa que tantos autores reconhecem e destacam os contornos narcisistas e depressivos da contemporaneidade.

Em As sessões os objetivos tecnicamente previsíveis não mascaram inevitáveis ansiedades e expectativas que acompanham desejos intensos. Apesar do corpo paralisado, a vontade de experimentar permanece viva. O artigo “Encontros com uma substituta sexual”, que inspirou o filme, e as histórias de amor vividas – ou fantasiadas – por O’Brien brotam na sensibilidade de sua poesia: “Deixa-me tocar-te com minhas palavras, pois minhas mãos jazem caídas como luvas vazias, deixa minhas palavras acariciarem teus cabelos, pois minhas mãos leves, mas inertes como tijolos, ignoram minhas vontades e se recusam a realizar meus desejos mais silenciosos”.

As Sessões/ The SessionsEUA/ 2012/ 95 min/ Direção: Ben LewinElenco: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Annika Marks, Adam Arkin, Rhea Perlman, W. Earl Brown, Robin Weigert, Blake Lindsley, Jennifer Kumiyama, Tobias Forrest

Amor (Amour)

O doloroso exercício da finitude. Em Amor, Michael Haneke mostra de maneira corajosa o processo de decadência física e psíquica. 

Morremos, é fato. Fenômeno óbvio – sabemos racionalmente.  Mas, não raro, o tratamos como se fosse exceção. E o fazemos não só pelo apego à vida, mas possivelmente também pela falta de representação subjetiva dessa experiência. Por mais que prevaleça a negação – principalmente numa cultura como a nossa, que nos convida a viver para sempre – e o incômodo em relação a esse desfecho, é impossível escapar do que está por vir. Morre-se a qualquer momento (não diz o ditado que basta estar vivo?), é inegável. Mas quanto mais os anos passam, temos consciência – sim, em algum lugar de nós temos certeza – de que nos resta menos tempo a cada dia. Curioso é que diante do inevitável quedamos abismados, como se tivéssemos sido traídos. E se haver-se com a própria morte é difícil, assistir a um objeto de amor definhar de forma irreversível é uma experiência complexa, que desperta uma gama de sentimentos. E, principalmente, nos coloca de forma direta com a finitude. É assim no premiado Amor.

O austríaco Michael Haneke, autor, diretor e roteirista, estudou psicologia e filosofia na Universidade de Viena – uma formação que provavelmente contribui para que apresente maneiras menos idealizadas de ver o ser humano e as relações. O filme, aliás, apresenta uma lição desconfortável: o amor não vence tudo e – por mais que tenhamos vivido belas histórias, apreciado obras de arte, criado filhos, construído relacionamentos – o peso da decadência sempre nos ronda. Além disso, o filme nos lembra quanto é trabalhoso morrer.

Muito além da angústia propriamente dita, dos dramas existenciais, do luto, do sofrimento e dos problemas sociais e mesmo das questões práticas, há imenso esforço – tanto físico quanto psicológico – envolvido no percurso rumo à morte. E não apenas de quem morre, mas também daquele que, por necessidade ou por escolha, acompanha esse processo – e, desta forma, também termina por morrer um pouco.

O diretor do intrigante A fita branca, que mostra primórdios da insanidade nazista, e de Caché, sobre a violência dissimulada, expõe desta vez os últimos dias de um simpático casal de idosos, Georges, vivido por Jean-Louis Trintignant, e Anne, interpretada por Emmanuelle Riva. Num exercício de despojamento, os dois atores – que, quando jovens foram ídolos do cinema – expõem ao olhar impiedoso das câmeras rostos sulcados pelas rugas, cabelos ralos e desgrenhados e corpos enfraquecidos.

Já na cena de abertura o espectador – mesmo o mais desavisado – percebe qual será o desfecho quando bombeiros arrombam a porta do apartamento do casal, abrem as janelas e constatam o falecimento de Anne, possivelmente ocorrido há alguns dias. Seu corpo, rodeado de pequenas flores, foi cuidadosamente arrumado sobre a cama – ela vestida com esmero e penteada. Meses antes, os dois músicos aposentados viviam uma intimidade marcada pela ternura: passeiam, vão a um concerto e administram as questões do dia a dia. Ele elogia a beleza da mulher: “Eu me lembrei de dizer que esta noite você estava realmente bonita?”. O cenário é um apartamento também antigo, algo sombrio, porém espaçoso e ainda confortável, repleto de livros, quadros e discos – objetos que testemunham uma vida marcada pelo gosto pelas artes.  Mas de repente – aliás, como acontece não só nos filmes, mas também na vida – sobrevém a tragédia: Anne sofre um acidente vascular cerebral que paralisa metade de seu corpo e a deixa numa cadeira de rodas.

Em Amor, assistimos impotentes à entrada em cena de dois grandes fantasmas da velhice: a solidão e a dependência. Talvez a desventura pareça ainda mais inquietante porque os protagonistas são dois intelectuais da alta burguesia, com recursos culturais e econômicos que – pelo menos teoricamente – deveriam protégé-los da catástrofe.

Enquanto ainda tem condições de se expressar, ela procura reagir com dignidade. Mesmo abatido, Georges cuida dela delicadamente: ajuda a despir-se, usar o vaso sanitário, tomar banho e comer. Anne não deixa de dizer “por favor” e  “obrigada”. Mas a angústia e o medo do futuro dominam a ambos a cada momento. “Prometa-me que não me levará mais ao hospital”, pede a mulher com a voz tranquila e firme, assim que chegam em casa, após a alta médica. Embora permaneça em silêncio, o marido irá procurar atender a esse desejo, da melhor forma que lhe é possível. O compromisso, porém, é penoso: ele assume pessoalmente a maioria dos cuidados cotidianos, enquanto as condições de Anne pioram.

No decorrer do filme, os diálogos aparecem gradativamente mais rarefeitos, não há música de fundo; o que prevalece é a sensação do enorme esforço físico do marido para levantar a doente, alimentá-la, acompanhá-la ao banheiro, resignar-se enfim a colocar-lhe o fraldão. Conversa com ela e canta, mesmo quando Anne não faz mais do que apenas balbuciar. Um dos momentos impactantes é sua exasperação quando Anne insiste em não comer a papa que ele lhe oferece às colheradas. Sim, é possível entendê-la: perdeu-se de si mesma de uma hora para outra, o corpo não responde a seus comandos, está emocionalmente cansada, profundamente triste e debilitada; a recusa da comida é arecusa da vida. Ele, por sua vez, exausto e desamparado, tem cada vez mais dificuldade de sustentar Anne – seja fisicamente, para mudá-la de posição, ou emocionalmente, para mantê-la viva. Nessa fase, Georges se nega a atender o telefone; por orgulho ou pudor, não quer receber visitas e expor sua miséria. Anne não deseja nem ouvir música, há uma progressiva restrição dos interesses e da energia vital, tudo parece concentrado na mera sobrevivência.

Para aliviar a demanda, Georges chega a contratar duas enfermeiras, pagas por hora. Porém, ambas pouco envolvidas afetivamente e ele descobre que ter as profissionais por perto pode ser ainda mais desgastante. Paralelamente, a frieza e o descomprometimento de Eva, única filha do casal, vivida Isabelle Huppert, tornam o abandono ainda mais evidente. Ocupada com a própria vida, se emociona e se “preocupa”, desde que o drama dos pais não ameace suas prioridades. A única ligação dos idosos com o mundo externo acaba sendo o casal de prestativos porteiros, que sobem de vez em quando para limpar um pouco a casa ou, incentivados por gorjetas, fazem compras.

O desafio da trama parece ser dar sentido justamente ao que escapa ao sentido. Uma metáfora dessa busca parecem ser as cenas do pombo que insiste em entrar por uma janela aberta e Georges, repetidamente, se empenha  em espantá-lo. Podemos pensá-las como uma representação da realidade inexorável do envelhecimento e da finitude que ganham espaço por mais que desejemos afastá-las.  Talvez uma das coisas mais tocantes de Amor seja o fato de que é incomodamente possível, factível, verdadeiro. Poderia ser comigo. Poderia ser com você. Talvez um dia seja...
Amor/ Amour: França, Alemanha, Austria/ 2012/ 127 min/ Direção: Michael HanekeElenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud, William Shimell

por 

Dentro de casa (Dans la maison)

O fascínio pela vida alheia

No início de mais um ano letivo, o professor Germain está entediado. Pede a seus alunos, a maioria com 16 anos, que escrevam sobre 48 horas de sua vida. As redações falam de pizza, programas de televisão, sono e... nada. Irritado por ter sido “agraciado” com “a pior das classes”, o homem de meia-idade partilha os textos e as impressões a respeito deles com sua mulher, Jeanne. Apesar de interessada, a prioridade dela parece ser a manutenção de seu emprego como coordenadora de uma galeria de arte moderna cujo proprietário faleceu. 


O esvaziamento e a superficialidade das narrativas lidas em voz alta por Germain, enquanto as corrige, em casa, são quebrados pelo texto intimista e revelador do jovem Claude. O adolescente escreve sobre a experiência de se aproximar de um colega da sala de aula, Rafa – um garoto “normal”, com pais “normais”. O objetivo é entrar na casa da família. É sobre a mistura de intimidades, de histórias que se cruzam mediadas pelo olhar do adolescente, que trata Dentro da casa, dirigido por François Ozon.

Por si só, a curiosidade do personagem é compreensível. Ora, quem nunca quis saber como vive o outro, como são suas relações e sua sexualidade? No caso de Claude, no entanto, seu interesse e o plano de aproximação não se traduzem de forma banal. Ele se reconhece como “elemento estranho”, identificado com a imagem de um dragão sobre a TV que olha ameaçadoramente para a foto da “santa família” no porta-retratos.

A forma que encontra para chegar perto do colega, oferecendo-se para lhe ensinar matemática, é premeditada. Antes disso, porém, ele já acompanhava a rotina da casa, estrategicamente sentado num banco de praça, na mesma rua. Uma vez no interior da casa o garoto percorre cada canto vasculha cômodos e objetos; observa, avalia gestos, aromas e costumes. Fragmentos de conversas ouvidos atrás das portas revelam os conflitos do casal e as angústias tanto de Rafa pai, quanto de Esther, a mãe.

O voyeurismo experimentado pelo protagonista é estendido a Germain e Jeanne. No início o jovem se satisfaz em percorrer discretamente os cômodos da casa, na ânsia de olhar pessoas, até há pouco estranhas, que não suspeitam que estejam sendo observadas. Mas ele quer mais: vê (ou talvez apenas imagine ver) o casal fazendo sexo. No texto Três ensaios sobre a sexualidade infantil, de 1905, Freud associa o prazer de ver (escopofilia) à perversão.

Expondo traços perversos de sua personalidade, o rapaz seduz o professor com suas redações que sempre anunciam que há mais por vir, já que ao fim de cada texto ele escreve: “continua”. Seduz também o colega, o pai e a mãe. Em algum momento do filme, cada um desses personagens, e até mesmo Jeanne, se apaixona por Claude. Mas é Esther, a mãe, que ele quer. Embora ele sinta no início certo desprezo pela mulher, por sua forma de falar e por seus anseios, aos poucos, porém, ela se torna objeto de seu desejo.

Ao penetrar na casa, organizada, limpa e cheirosa, Claude afasta-se da própria realidade: a vida em uma residência bem menor, com o pai, deficiente físico que parece ocupar pouco lugar na vida do filho, e a ausência mãe, que foi embora quando o menino tinha 9 anos. A história de abandono, certamente fonte de sofrimento, é estrategicamente usada pelo rapaz para conseguir a atenção e o afeto das pessoas, numa tentativa de manipular o outro. Não há nessa forma de relacionar-se qualquer resquício de culpa, e é como se as pessoas fossem realmente personagens que pudessem ser manipulados pelo garoto a seu bel-prazer. Em dado momento Germain orienta Claude: “Pare de pensar em meus desejos, pense em você, no que o excita”. Os desejos, porém, já parecem impregnados uns dos outros.

A narrativa, marcada pela partilha, chega ao limite da contravenção. Reconhecendo seu lugar de educador, adulto e responsável, Germain teme as consequências de seu envolvimento, tenta diferenciar-se, mas não encontra em si mesmo forças para reverter a atração, é preciso que interdições externas o barrem – e elas inevitavelmente vêm. Estabelece-se um jogo entre o professor e o aluno – arriscado e ao mesmo tempo estimulante. O jovem escreve especificamente para Germain, que, por sua vez, vê nele o talento para a literatura que gostaria de ter. Isso se revela nas constantes conversas após a aula, que oferecem um toque de fantasia à rotina do professor. 

No lugar de observadores, Germain e Jeanne experimentam o gozo de acompanhar o desenrolar da vida alheia como se espiassem pelo buraco da fechadura. É a mulher quem se dá conta, em dado momento da trama, que, após a entrada de Claude na vida do casal, os dois já não mantinham relações sexuais – o desejo parece ter sido canalizado para o prazer de “olhar” os outros, ainda que por meio das palavras escritas pelo estudante.

Ao estudar o brincar e seu papel na organização psíquica, o psicanalista inglês Donald Winnicott afirma que não se pode entender a fantasia apenas como realização alucinatória do desejo ou como forma de enfrentar ou defender-se de uma realidade traumática, mas também como forma de estabelecer relações criativas com o mundo externo. 

O brincar – no caso de Claude, o olhar e a escrita – parece ter importância em si, não apenas como meio. “A fantasia é mais primária que a realidade e o enriquecimento da fantasia com riquezas do mundo depende da experiência da ilusão”, escreve Winnicott em 1945.

Desenhando na lousa, Germain ensina: “Um personagem quer realizar seu desejo, mas ao longo do caminho surgem obstáculos; Ulisses quer voltar para casa, mas o ciclope pretende matá-lo, as sereias o hipnotizam e as bruxas o sequestram”. Às vezes, porém, o conflito não está entre o herói e alguém de fora, é interno. Aquiles, por exemplo, se questiona se quer ir para Troia ou ficar com sua amada. Claude não parece ter dúvidas: ele quer fazer parte de algo, estar dentro. 

Não importa exatamente de onde, ele anseia ser incluído. Alimenta a ideia de que há outros personagens de quem se aproximar, outras vidas das quais se nutrir. Afinal, como o fim de seus textos indicavam, sempre “continua”...

Dans la maison, 2012 | Dirigido por François Ozon | Roteiro de François Ozon, baseado na peça de Juan Mayorga | Elenco: Fabrice Luchini, Ernst Umhauer, Kristin Scott Thomas, Emmanuelle Seigner, Denis Ménochet, Bastien Ughetto, Jean-François Balmer, Yolande Moreau, Catherine Davenier e Vincent Schmitt | Distribuidora: California Filmes

A Caça (Jagten)

Em 1995, os diretores dinamarqueses Thomas Vinterberg e Lars von Trier organizaram o movimento Dogma 95, voltado ao resgate do cinema realista, sem apelos comerciais e efeitos tecnológicos ou cenográficos que mascarassem a comunicação direta e sem disfarces. Mais interessados no conteúdo de seus trabalhos, geralmente densos e impactantes, esses diretores despertam a inevitável polêmica de quem marca sua diferença. Em A caça, Vinterberg não deixa de lado essa proposta e segue esse estilo.


A trama se desenrola num vilarejo na Dinamarca num ritmo seco, com pouca luz e cenário simples, quase sem fundo musical. O protagonista, vivido pelo ator Mads Mikkelsen, é Lucas, professor de uma escola infantil que tenta refazer sua vida após um tumultuado divórcio. Nas horas de folga, aprecia a caça de alces e os alegres e descontraídos encontros com um grupo de amigos de longa data. Tudo começa a mudar quando a pequena Klara, interpretada por Annika Wedderkopp, uma das alunas, filha de um de seus companheiros, insinua o abuso sexual.

Mas o que realmente teria ocorrido?  Num ambiente familiar tumultuado, a menina de 5 anos acompanha as manifestações de rebeldia de seus irmãos adolescentes. Os garotos, que ainda não conseguem lidar com seus hormônios e impulsos em ebulição, apresentam a ela cenas de sexo na internet e usam vocabulário inadequado para a idade da menina. Aos poucos, Klara começa a se apegar mais intensamente ao professor. Mas ao lhe oferecer um presente e lhe pedir um beijo, sente--se rejeitada quando o educador não atende a sua demanda. Frustrada e com raiva procura a coordenadora da escola. Usa para se expressar a terminologia assimilada na convivência com seus irrequietos irmãos e alega ter visto o pênis de seu professor – “grande e duro como um bastão”.

Após esse evento, um enxame de acusações transforma Lucas num monstro indefensável aos olhos das pessoas com quem convive. Além de ser afastado de suas atividades profissionais, passa a ser evitado por todas as pessoas da comunidade, até mesmo pelos amigos. O clima na cidadezinha fica cada vez mais violento e, sem que ocorra alguma discussão mais cuidadosa sobre o caso, a situação culmina com a expulsão do professor.

Várias questões podem ser pensadas a partir do tema apresentado no filme. Podemos tomar duas delas para reflexão. A primeira diz respeito à necessidade grupal de escolher “bodes expiatórios”. A origem do termo está na tradição judaica: consta na Torá que o sacerdote colocava as mãos sobre o animal, confessava os pecados do povo de Israel para depois deixá-lo morrer ao relento, num ritual de purificação por meio do sacrifício. No texto Psicologia das massas e análise do eu, de 1920, Sigmund Freud cita o sociólogo Gustave Le Bon e apresenta uma discussão sobre o funcionamento grupal. Segundo o autor, ocorre no grupo uma espécie de “contágio” que acaba por diminuir consideravelmente os interesses individuais. O que é heterogêneo submerge no que é homogêneo. A capacidade individual para uma reflexão crítica torna-se rebaixada e ocorre uma visível regressão. As emoções se exaltam e as pessoas se tornam mais sugestionáveis: verdades absolutas e maniqueísmo inibem dúvidas e incertezas. Assim, a realidade perde espaço para a ilusão – uma ilusão autoritária, absoluta e coletiva.

A outra questão aparece numa frase dita várias vezes ao longo do filme: “Crianças não mentem”. Autores da psicologia do desenvolvimento e educadores de fato não discordam dessa frase: crianças em tenra idade não mentem – mas fantasiam e pouco sabem das consequências do que dizem. Se a palavra “ingênua” tem origem na ideia daquilo que ainda não nasceu, podemos inferir que Klara gerou, sem perceber, a revelação de questões e ansiedades latentes. Dominados por um furor maníaco, os habitantes do vilarejo passam a ver em Lucas a encarnação dos males mais profundos da coletividade. Conflitos ligados a possíveis desejos incestuosos reprimidos fazem do professor o depositário desses impulsos, vivenciados com repugnância pela comunidade. Fica manifesto em um só membro do grupo conteúdos que não podem ser reconhecidos ou sequer pensados. Nesses casos, a massa social cria uma espécie de autoproteção ao eleger seus bodes expiatórios, detentores de sentimentos e instintos que os grupos e seus componentes não são capazes de confessar. E para a defesa desse mal, qualquer crueldade e violência ganham uma inquestionável justificativa.

Leis e normas sociais existem para facilitar a organização de um grupo. A vida civilizada permite o desenvolvimento da cultura, da arte, da produtividade e criatividade. Mas deixar de lado singularidades e sentimentos reforça a constituição de uma sociedade totalitária, maniqueísta e infantil. A complexidade humana exige avaliações mais profundas: rigidez, preconceitos e discriminação são formas primitivas das quais alguns grupos lançam mão para evitar uma suposta ameaça. E a falta de flexibilidade pode trazer um efeito inesperado ao despertar, como numa manifestação sombria, a inevitável violência que a condição humana também traz consigo, mesmo que sob aparente controle.

Outro diretor de cinema, Stanley Kubrick, disse certa vez: “Estou interessado na natureza violenta e brutal do homem porque esse é seu verdadeiro retrato”. Experiências dolorosas da história podem confirmar essa dura frase.  E como todo animal caçado, o protagonista – que no início do filme perseguia alces – torna-se acuado, vítima de covardia e crueldade.

A Caça/ Jagten: Dinamarca/ 2012/ 115 min/ Direção: Thomas VinterbergElenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Annika Wedderkoop, Lasse Fogelstrøm, Susse Wold, Anner Louise Hassing, Lars Ranthe, Alexandra Rapaport, Ole Dupont

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Respiração do Renascimento em Campinas.



“Tem sido possível confirmar repetidamente a observação de Wilhelm Reich de que as resistências e defesas psicológicas usam os mecanismos de restringir a respiração. A respiração ocupa uma posição especial entre as funções psicológicas do corpo. É uma função autônoma, mas também pode ser facilmente influenciada pela vontade. Aumente a quantidade e profundidade da respiração, especialmente se libertando das defesas psicológicas, e se conduza à libertação e à saída da inconsciência.”                                                  Stanislav Grof 

O Renascimento – Terapia da Respiração é um simples e poderoso instrumento de limpeza e cura física e emocional.

O que é Renascimento?

Renascimento também chamado Terapia da Respiração Consciente é uma técnica simples e poderosa que nos ajuda a trazer mais consciência, totalidade e liberdade para a vida. É um processo profundo de auto-investigação e de crescimento pessoal, que pretende clarear e eliminar os bloqueios e tensões que contraímos no corpo desde o nascimento e infância até a vida adulta. Estas experiências dolorosas originaram condicionamentos e formas de funcionar limitantes que nos aprisionam e nos impedem de sermos autênticos e totais.

A Respiração Consciente usada no Renascimento é um reaprender a conectar a inalação e exalação, em um ritmo amplo e relaxado, que refresca o corpo e a mente, e distribui generosa e abundantemente a energia vital para todo ele. Este processo limpa o sistema nervoso e o sistema circulatório, nutre as células e os órgãos, equilibra e cura nossa mente, nosso corpo e o nosso espírito, integrando-os.

Nossos sentidos nos põe apenas em contato com nossa mente, mas nossa consciência nos põe em contato direto com nosso coração, com os nossos sentimentos. E disso é que temos medo. Por isso muitos de nós vivemos para fora, no mundo da mente, no mundo do tempo, revivendo o passado e preocupados com o futuro. No Renascimento atingimos a dimensão do não-tempo, do presente e nos conectamos com a repentina delícia e beleza de simplesmente SER!” 

Na década de 70 o norte americano, Leonard Orr desenvolveu uma técnica chamada Rebirthing (Renascimento), também conhecida no Brasil como Terapia da Respiração Consciente que nos ajuda a liberar estes bloqueios, tensões e contrações. Foi constatado que cada ser humano respira de forma diferente, segundo padrões de condicionamentos desenvolvidos a partir do nascimento e da infância. Esses padrões indicam com acuidade os bloqueios emocionais e as limitações no nível de comportamento e expressão criativa que nos afetam.

 Renascimento é uma técnica que utiliza conscientemente o processo respiratório para promover a diluição de bloqueios e tensões que contraímos no corpo desde o nascimento. Desde que nascemos, e às vezes dentro do útero, não somos incentivados a sermos totais, a nos expressarmos espontaneamente, muito pelo contrário, desde pequenos “aprendemos” que se nos comportarmos de “certa maneira”, se não expressarmos o que somos e sentimos seremos aceitos, pelos pais, professores e/ou grupo social. O que acontece é que tudo isto que não expressamos vai sendo contraído no corpo.

Muitas correntes terapêuticas de abordagem corporal têm centrado suas pesquisas no ciclo respiratório, definindo sua importância como chave primordial na busca de maior equilíbrio e bem estar na vida. O Renascimento é uma destas técnicas. É a técnica que experimentei e transformou minha vida, por isso resolvi me especializar nela... para mim o Renascimento é uma técnica simples, poderosa e que “funciona” no sentido de propiciar uma transformação concreta na vida das pessoas que a experimentam.

Todas as resistências, memórias .... tudo o que nós contraímos até então, nos fazem fechar para a vida. A magia do Renascimento está em podermos entrar em contato com estes sentimentos limitantes e descontrairmos, liberarmos. Ao fazer isto entramos cada vez mais em contato com o nosso ser, com a nossa essência ... conseqüentemente vivemos uma vida mais consciente, mais real, mais focada no aqui e agora.

É uma experiência de se abrir para a vida e tudo o que é contrário a isto, quer no nível físico (tensões no corpo, dores), emocional (sentimentos e emoções não expressas) e mental (memórias e lembranças traumáticas) vem à tona para ser dissolvido, expandido, curado.

É possível através desta técnica ter consciência de traumas ou situações bloqueadas da vida no útero. Tudo o que foi contraído vem à tona para ser liberado. Sabemos hoje, que já dentro do útero o bebê recebe tudo o que a mãe sente. Se a mãe rejeitou a gravidez, se teve uma gravidez conturbada o bebê também experimentou isto.
Respiração do Renascimento em Campinas.

domingo, 28 de julho de 2013

Renascimento (Rebirthing) em Campinas



A Respiração do nascimento (rebirthing) ajuda a liberação dos bloqueios e traumas emocionais acumulado desde seu nascimento, aumentando o poder de seu sistema imunológico e levando você a uma integração curadora entre a mente inconsciente e a sua consciência. Você irá romper com padrões de respiração condicionados por situações traumáticas em sua vida, o que libera a tensão de estruturas físicas e mentais.

A Respiração é um processo orientado para o corpo e pelo corpo. Renascimento (rebirthing), bioenergética, hipnose. Acompanhada por toques e trabalhos corporais, esta técnica abrangente abre dramaticamente o fluxo interno de energia, para permitir que você experimente sua total capacidade de amor e consciência.

O trabalho enfatiza a interconexão entre você e sua respiração. É possível notar que quando há um forte sentimento de medo ou dor, você inconscientemente prende a respiração. Por outro lado, quando há um forte sentimento de prazer ou alegria, você naturalmente respira grande, mais profundamente. Tornando-se consciente de seus padrões de respiração, ao mesmo tempo em que libera os bloqueios existentes por meio das diferentes técnicas utilizadas, você pode libertar-se de padrões negativos, se tornar mais seguro, enraizado em sua realidade presente, com maior liberdade de expressão e saúde radiante.
Redescubra a espontaneidade e inocência que você teve quando criança e amplie sua capacidade de amar com base na confiança, clareza e consciência.

Wilhelm Reich (fundador das psicoterapias corporais no ocidente) apontou o papel fundamental da respiração em todos os fenômenos da repressão de desejos e emoções, mostrando que todas as repressões estão ligadas, em sua base, a uma repressão da respiração. Neste trabalho há um aprofundamento da respiração e da consciência, o que permite profunda liberação emocional.
Quando o processo é feito individualmente, tanto o cliente quanto o facilitador conseguem dedicar maior atenção aos assuntos pessoais e padrões que precisam ser modificados no momento.

Gaiarsa, sobre a respiração circular:
“Em 50 anos de atividade profissional, com inúmeras buscas e experiências, a respiração circular me parece a melhor tentativa para resolver problemas emocionais de quem quer que seja, e qualquer que seja a natureza do problema, e a prática freqüente vai estimulando um processo continuo de mudança.”
* Trecho retirado do livro “Respiração, angústia e renascimento”, de José Ângelo Gaiarsa, renomado Médico Psiquiatra e um dos introdutores das psicoterapias corporais no Brasil.
Terapia de Respiração do Renascimento em Campinas.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eneagrama » Historico

O Eneagrama (do grego enneas; nove e gramma; algo escrito) satisfaz a esse enigma. Trata-se de uma antiga e maravilhosamente precisa descrição da personalidade humana em toda a sua diversidade e de como está diretamente ligada ao eu de cada pessoa.
Os psicólogos de diversas escolas descobriram que ele encontra uma correspondência surpreendentemente próxima de descrições modernas da personalidade. Simples, preciso e profundo, liga, explica e põe em um contexto elementos díspares do eu e modo como este funciona, o quem, de uma maneira, levaria anos para ser compreendido.
Não importa se a pessoa que quer se conhecer seja um iniciante ou alguém experiente, o Eneagrama desempenha um papel exclusivo na vida de quem quer que esteja procurando o desenvolvimento psicológico ou espiritual, ou mesmo que esteja em busca de uma ponte que uma esses dois aspectos.
Em qualquer estágio da vida, o Eneagrama propicia:


  • Uma compreensão mais profunda de quem somos, qual o nosso potencial e como realizá-los.
  • Crescimento autodirecionado a partir de qualquer nível para qualquer nível que quisermos.
  • Uma vida cotidiana mais harmoniosa.
  • Uma empatia mais profunda nos relacionamentos.
  • A percepção de nossa personalidade, aceitando nossos defeitos, integrando nossa sombra, compreendendo e usando para ajudar em nosso crescimento.
  • Compreendermos como nossa personalidade é a chave para nosso caminho espiritual pessoal, independente de nossa religião.
  • Última atualização em Seg, 03 de Janeiro de 2011 22:29

    sexta-feira, 5 de julho de 2013

    Autoconhecimento em Campinas.

    Psicoterapia como autoconhecimento em Campinas.
    A capacidade de agir como adultos maduros e integrados é em grande parte, determinada pelo modo como nossas necessidades especificas de desenvolvimento foram satisfeitas na primeira infância. As necessidades de afeto e proteção que não tiveram sido adequadamente atendidas podem ser vistas como lacunas que interferem em nossa capacidade de vivenciar a vida em sua plenitude.
    Em virtude de receber um amor condicional, a criança aprende desde cedo, que não é amada e aceita quando expressa sua naturalidade. Ela precisa reprimir seus sentimentos verdadeiros e com isso perde sua espontaneidade. Esses sentimentos ficam reprimidos em seu inconsciente. Ela não pode se rebelar, porque corre o risco de perder o que mais precisa o amor e a proteção dos pais.
    Ela precisa, portanto, moldar-se usando máscaras e representar papéis sociais para agradar aos pais e aos outros, e é ai, então, que ela se perde de si mesma, não vivendo sua verdadeira vida. Dessa forma ela fica alienada de uma parte de si mesma, vivendo uma vida falsa, criando um “falso self”, uma personalidade moldada sempre em busca de amor e aprovação do mundo externo. Esses sentimentos e desejos reprimidos principalmente a raiva saem da consciência e se esconde em um lugar sombrio inconsciente cujo nome Jung chama de sombra.
    Essa pessoa vive alienada de uma parte sua, sufocando sentimentos e desejos não aceitos principalmente pelos pais, religião e sociedade. É como que ela vivesse somente uma parte de si mesmo, como a metade de uma laranja. E como nossa psique “self” que regula nossa personalidade sempre busca nosso crescimento procurando completar essa laranja cindida.
    Ela procura ser aceita e respeitada pelas pessoas, demonstrando somente os sentimentos aceitáveis e aprovados. E com isso, ela cresce com um grande vazio interior, uma carência afetiva e uma falta de amor próprio que está sempre tentando preencher. Possui um profundo sentimento de ansiedade, medo e angustia com dificuldade de se impor diante da vida ou quando tem que lidar com situações de tensão emocional.
    Como ela reprime os sentimentos indesejáveis e a não aceitos, como por exemplo, a raiva. A raiva geralmente é vista pelas pessoas como um sentimento feio, que não deve ser exposto e vivenciado, porque muitas vezes em nossa infância sofremos violência física, vimos nossos pais brigarem e se agredirem. E ficamos assustados e temerosos com tal violência. E por fim acreditamos que o sentimento de raiva é isso.
    Na verdade a demonstração daquela raiva que era errada e imatura. Sempre que reprimimos um sentimento jogando para nossa sombra inconsciente, não dando vazão como o fluxo de um rio, ela se torna muito perigosa e violenta. Como a repressão das águas de um rio que transbordam quando ficam muito cheias, como um tissuname suas águas (sentimentos raiva reprimidos) saem sem controle avançando e destruindo sobre tudo a sua frente.
    E como ela vivencia conscientemente somente uma parte de si mesma, a outra fica no mundo sombrio inconsciente, ela cria uma ilusão, acreditando que essa é sua verdadeira personalidade, vive um falso self, uma personalidade “neurótica” então precisa representar vários papeis para ser aceita socialmente como de boazinha, perfeita ou bem sucedida profissionalmente, buscando aplausos o tempo todo, respeito e admiração do mundo externo. .
    A psicoterapia nos ajuda a perceber nossas defesas psíquicas, ilusões, máscaras e os papéis sociais usados que nos impedem de expressar nossa verdadeira essência.
    Buscamos resgatar nossa essência, nossa verdadeira naturalidade encoberta por uma personalidade neurótica, que julgamos ser nossa verdadeira personalidade. Quanto mais tomamos consciência de quem somos realmente, expressando o nosso si mesmo, aceitando todos nossos sentimentos alienados, resgatamos nossa auto-estima e amor próprio. “Ame o próximo como a si mesmo”. Se eu não tiver um profundo respeito e amor por mim mesmo, eu só posso usar e manipular as outras pessoas.
    Por isso, ao olhar para nos mesmos, para nossos sentimentos mais profundos, estamos sujeitos a descobrir verdades a nosso respeito de que jamais suspeitamos e a reviver antigas mágoas, medos e raivas. É por essa razão que é importante cultivar a compaixão em relação a nós mesmos: temos de amar-nos o bastante para saber que valemos o esforço de conhecer-nos como realmente somos. Quando queremos viver a verdade de quem fomos e quem somos agora e quando queremos curar-nos, nossa verdadeira natureza emerge, para isso só precisamos revelar-nos.
    Autoconhecimento em Campinas.

    sábado, 29 de junho de 2013

    Individuação

    Segundo Jung, todo indivíduo possui uma tendência para a individuação ou autodesenvovimento. Individuação significa tornar-se um ser único, homogêneo, na medida em que por individualidade entendemos nossa singularidade mais intima, última e incompatível, significando também que nos tornamos o nosso próprio si mesmo. Podemos, pois, traduzir “individuação” como tornar-se si mesmo ou realização do si mesmo. Individuação é um processo de desenvolvimento da totalidade e, portanto, de movimento em direção a uma maior liberdade. Isto inclui o desenvolvimento do eixo ego-self, além da integração de várias partes da psique: ego, persona, sombra, anima ou animus e outros arquétipos inconscientes. Quando tornam-se individuados, esses arquétipos expressam-se de maneiras mais sutis e complexas.
    Do ponto de vista do ego, crescimento e desenvolvimento consistem na integração de material novo na consciência, o que inclui a aquisição de conhecimento a respeito do mundo e da própria pessoa. O crescimento, para o ego, é essencialmente a expansão do conhecimento consciente. Entretanto, individuação é o desenvolvimento do self e, do seu ponto de vista, o objetivo é a união da consciência com o inconsciente. Como analista, Jung descobriu que aqueles que vinham a ele na primeira metade da vida estavam relativamente desligados do processo interior de individuação; seus interesses primários centravam-se em realizações externas, no emergir como indivíduos e na consecução dos objetivos do ego. Analisando mais velhos, que haviam alcançado tais objetivos, de forma razoável, tendiam a desenvolver propósitos diferentes; interesses pela integração mais do que pelas realizações, e busca de harmonia com a totalidade da psique.
    O primeiro passo no processo de individuação é o desnudamento da persona. Embora esta tenha funções protetoras importantes, ela é também uma mascara que esconde o self e o inconsciente.
    O segundo passo é o confronto com a sombra. Na medida em que nós aceitamos a realidade da sombra e dela nos distinguimos podemos ficar livres de sua influência. Além disso, nós nos tornamos capazes de assimilar o valioso material do inconsciente pessoal que é organizado ao redor da sombra.
    O terceiro passo é o confronto com a anima ou animus. Este arquétipo deve ser encarado como uma pessoa real, uma entidade com quem se pode comunicar e de quem se pode aprender. Jung faria perguntas à sua anima sobre a interpretação de símbolos oníricos, tal como um analisando a consultar um analista. O indivíduo também se conscientiza de que a anima (ou animus) tem uma autonomia considerável e de que há probabilidade dela influenciar ou até dominar aqueles que a ignoram ou os que aceitam cegamente suas imagens e projeções como se fossem deles mesmos.
    O estágio final do processo de individuação é o desenvolvimento do self. O si mesmo é nossa meta de vida pois é a mais completa expressão daquela combinação do destino a que nós damos o nome de indivíduo. O self torna-se o novo ponto central da psique. Traz unidade à psique e integra o material consciente e o inconsciente.
    A individuação poderia ser apresentada como uma espiral na qual os indivíduos permanecem se confrontando com as mesmas questões básicas, de forma cada vez mais refinada. Este conceito está muito relacionado com a concepção Zen-budista da iluminação, na qual um indivíduo nunca termina um Koan, ou problema espiritual, e a procura de si mesmo é vista como idêntica à finalidade.

    sábado, 8 de junho de 2013

    Self

    Jung chamou o self de arquétipo central, arquétipo da ordem e totalidade da personalidade. Segundo Jung, consciente e inconsciente não está necessariamente em oposição um ao outro, mas complementam-se mutuamente para formar uma totalidade: self. Ele descobriu o arquétipo do self apenas depois de estarem concluídas suas investigações sobre as outras estruturas da psique. O self é com freqüência figurado em sonhos ou imagens de forma impessoal – como um círculo, mandala, cristal ou pedra – ou pessoal – como um casal real, uma criança divina, ou na forma de outro símbolo de divindade. Todos estes são símbolos da totalidade, unificação, reconciliação de polaridades, ou equilíbrio dinâmico – os objetivos do processo de individuação.
    O self é um fator interno de orientação, muito diferente e até mesmo estranho ao ego e à consciência. O self não é apenas o centro, mas também toda a circunferência que abarca tanto o consciente quanto o inconsciente; é o centro desta totalidade, assim como o ego é o centro da consciência. Ele pode, de inicio, aparecer em sonhos como uma imagem significante, um ponto ou uma sujeira de mosca, pelo fato do self ser bem pouco familiar e pouco desenvolvido na maioria das pessoas. O desenvolvimento do self não significa que o ego seja dissolvido. Este último continua sendo o centro da consciência, mas agora ele é vinculado ao self como conseqüência de um longo e árduo processo de compreensão e aceitação de nossos processos inconscientes. O ego já não parece mais o centro da personalidade, mas uma das inúmeras estruturas dentro da psique.